Muito embora eu seja uma apaixonada pela Construção Civil e tendo cursado Design de Interiores que foi uma forma de amenizar a minha vontade de cursar Arquitetura, se alguém me dissesse há alguns anos que eu estaria no Japão, não apenas mudando de carreira, mas liderando uma empresa de demolição com meu marido em Osaka, eu teria rido na cara deles. Afinal, eu era uma educadora, apaixonada por ensinar sobre empreendedorismo e gestão corporativa. Mas a vida tem um jeito engraçado de nos surpreender e nos ensinar, não é mesmo?
Se você me conhece há 10, 20 ou 30 anos, provavelmente você tem conhecimento fragmentado das inúmeras versões que desenvolvi nestes praticamente 30 anos de imigração no Japão. Por isso, antes de contar este capítulo da minha história preciso, sobretudo, começar do começo!
Cheguei ao Japão aos dezenove anos de idade, já era casada, mãe de uma menina de um ano e três meses e que tive de deixar aos cuidados da minha eterna sogra, Dona Ieda, para que pudesse me aventurar em Hokkaido, ao norte do Japão, num vilarejo remoto. A estadia em Hokkaido foi curta e marcante, os seis meses foram sem dúvida um preparo essencial para os vinte e tantos que viriam depois desse start. Morei em Gifu por apenas dois meses, mas foi em Hamamatsu onde passei a maior parte da vida, local onde meu filho caçula nasceu e quem diria, também a minha netinha Ariel. Foi somente em novembro de 2018 que migrei para Osaka, mais ao sul do Japão, onde vivo até hoje.
Minha passagem por Gifu foi muito rápida e marcante, foi lá que sentimos o sismo de Janeiro de 1995 e que devastou Kobe. De 1995, ano que cheguei em Hamamatsu a 2018, há também um hiato de cinco anos na cidade de Kakegawa onde meus filhos estudaram e onde ainda tem muitas raízes também. Portanto, a versão de mim de Kakegawa é da missionária que começou um culto doméstico com os dois filhos e o ex-marido. A Bacharel em Teologia que viajou para vários países, na ânsia missionária de levar o amor de Cristo a quem quer que tivesse sede dEle. Com a separação do meu primeiro marido, minha vida tomou um rumo diferente.
A versão Prof. Sandra tem seu início em 2008. Eu havia ido ao Brasil em 2007 e já tinha a ideia de quando voltasse, abril de 2008, pudesse contatar algumas escolas brasileiras no Japão (o único país fora do Brasil com escolas brasileiras homologadas pelo MEC) e oferecer meus serviços de Educadora Religiosa uma vez que a disciplina havia voltado para a grade curricular na forma optativa. Qual não foi a minha surpresa quando ao enviar meu currículo a três instituições, receber de todas, o convite para uma entrevista e proposta de emprego já no outro dia. Duas tinham propostas de que aceitasse lecionar disciplinas que não tinham a ver com a minha formação, por isso, recusá-las e aceitar a proposta da Alegria de Saber de Hamamatsu e Toyohashi para ser uma das professoras de Humanas me pareceu o mais coerente. Ingressar na escola secular depois de passar dezoito anos na Eclésia, foi sem dúvida também um imenso desafio.
Foram dez anos em Escolas Brasileiras. Dez anos de estudos, viagens, mergulho na Filosofia, na História, na Sociologia e na Geografia. Uma década não somente de ensino mas de aprendizado com as escolas, os seus sistemas de ensino, os alunos, a realidade escolar brasileira dentro do Japão. Foram muitos fóruns, muitos debates, muitos trabalhos envolvendo a educação. Neste período passei por Índia, China, Estados Unidos, Áustria, Brasil e Japão. Cresci muito, evoluí como profissional, fui conselheira suplente do CRBE[1], conselheira por cinco anos do Consulado Geral de Hamamatsu. Neste contexto foram idealizados e implementados vários projetos educacionais: a UniExcellence, o UEH Project, a UETV, a UE Rádio. Recebi muitos profissionais da área e também do mundo corporativo.
[1] Conselho de Representantes de Brasileiros no Exterior (CRBE).O CRBE foi instituído pelo Decreto nº 7.214, de 15 de junho de 2010, como um órgão de assessoramento do Itamaraty e de interlocução com as comunidades brasileiras no exterior. Seus membros foram empossados em 3 de dezembro de 2010 pelo então Presidente da República e atuam em caráter voluntário, sem remuneração. Hoje ele funciona de forma autônoma por iniciativa de ex-conselheiros que decidiram dar continuidade ao mesmo.
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